CHARUTOS



Charutos e Mulheres
Tradução: Silvana Siqueira
Quem não percebeu o crescimento do número de mulheres que fumam charutos certamente não estava prestando atenção. Muitas estão abandonando a delicadeza dos cigarros pela robustez dos charutos.
Apesar de essa mudança incomodar algumas pessoas, é uma boa notícia para as mulheres. (Por que só os homens podem se divertir?) Hoje, as mulheres modernas já não admitem os antigos tabus envolvendo os charutos. Nos anos 50 e 60 os homens não puderam impedi-las de conseguir empregos e mostrar seu valor também fora de  casa. Portanto, não espere que agora elas parem de acender um bom cubano. O número de mulheres que fumam charutos ainda representa uma pequena porcentagem do total de fumantes, mas observadores esperam que este número cresça significativamente nos próximos anos.

Por que esta tendência? Talvez seja mais uma conquista do movimento pelos direitos das mulheres ou simples reconhecimento das vantagens que os charutos têm sobre os cigarros, no que se refere à saúde. Pode ser também porque elas gostam do ritual de acender e segurar o charuto. Ou simplesmente porque apreciam o sabor, o aroma ou a facilidade com que se faz amigos quando a experiência de fumar charutos é compartilhada com outras pessoas. Em outras palavras, mulheres gostam de fumar charutos pelas mesmas razões dos homens.
Charutos são muitas vezes comparados aos bons vinhos e à boa comida, pois devem ser apreciados e saboreados lentamente.

A maioria das mulheres opta por charutos suaves. Há quem pense que charutos pequenos são mais leves; porém, são os maiores que têm sabor menos adstringente, pois queimam de maneira mais lenta e suave, enquanto os menores são tendem a queimar de forma mais rápida e quente.
Mulher, quando decidir experimentar seu primeiro charuto lembre-se de que é muito importante saber cortá-lo para possibilitar o fluxo da fumaça, para isso, é interessante seguir as orientações de um fumante mais experiente, pois existem várias diferenças entre os tipos de charutos disponíveis no mercado. Mas isso não deve ser motivo para preocupação, pois aos poucos você irá adquirindo experiência e fará tudo certo.
Na hora de acendê-lo, opte por isqueiro a gás tipo maçarico, pois outros tipos podem alterar o sabor do charuto. Caso venha a utilizar fósforos, prefira os de madeira e espere que a cabeça do palito se queime por completo, permitindo assim a eliminação dos produtos químicos.
Depois disso, é só saborear seu charuto, faça isso de maneira calma e relaxada, afinal as boas coisas da vida foram feitas para serem apreciadas, como aprendeu Fernanda Ayoub:
O meu envolvimento com este universo iniciou durante a faculdade de hotelaria.  Comecei a me aprofundar no assunto e posso dizer que foi amor à primeira vista. E foi assim que o charuto se tornou uma paixão e parte da minha vida.
Confesso que no inicio tive certa dificuldade para entrar nesse mundo tão masculino. Adorava ir a tabacarias, mas me sentia incomodada porque quase sempre era recebida com perguntas como “veio comprar um presente?”, ou então, “é para o seu pai?” e quando respondia com uma negativa, então o vendedor insistia em oferecer charutos mais suaves ou aromatizados, pois “combinavam mais com as mulheres”.

Ayoub lembra que Atrizes como Marlene Dietrich, Jodie Foster, Whoopie Goldberg, Demi Moore, Drew Barrymore, Sharon Stone, Linda Evangelista, Nicole Kidman e a cantora brasileira Fafá de Belém também são apaixonadas pela arte das baforadas. Até mesmo Bonnie Parker, da famosa dupla de criminosos americanos Bonnie e Clyde, arrumava tempo entre seus assaltos para degustar um puro.


No cinema
Uma das pioneiras atrizes a aparecern fumando num filme foi Leslie Caron, que apareceu em Gigi fumando.  O diretor Vincent Minnelli queria mostrar a mudança de personalidade da moça, que após fumar o charuto tornava-se mais firme em relação aos demais protagonistas do filme. 
Outras atrizes repetiram o feito: Candice Bergen, em O Canhoneiro do Yang-Tsé, Julie Andrews, em Vítor ou Vitória, e Marlene Dietrich,
Candice Bergen
no clássico de Orson Welles, A Marca da Maldade.
Mais recentemente no filme O Clube das Desquitadas, de 1996, as atrizes principais, Bette Midler, Goldie Hawn e Diane Keaton eram vistas constantemente segurando seus charutos. 




Fontes:
http://basilico.uol.com.br/?p=410
http://www.cigarsforwomen.com/




Coloração dos charutos

A variação na cor da capa depende do quanto essa folha foi processada, dos diferentes tipos de fumo e de solo, e da quantidade de luz solar a que a folha ficou exposta.




Double claro ou candela: coloração entre o verde claro e o amarelo. Obtido graças ao processo térmico de secagem rápida que retém a clorofila das folhas de capa, gerando uma capa mais adocicada;



Claro: castanho amarelado e claro. Obtido através do cultivo do fumo à sombra. Essas capas têm gosto neutro;





Colorado claro ou Natural: Marrom-claro. Na maioria das vezes é a cor de capas cultivadas ao sol;





Colorado: entre o marrom-médio e o vermelho-escuro. Trata-se de capas cultivadas à sombra, caracterizadas por aroma e sabor sutil;




Colorado maduro: um tom pouco mais escuro que o colorado;



Maduro: têm uma variação desde o marrom-avermelhado muito escuro ao quase preto. Resultado de um processo de fermentação mais longo e em condições mais quentes que as normais. Tem aroma suave, sabor encorpado e adocicado;




Oscuro: mais escuro que o maduro. É obtido deixando as folhas o maior tempo possível na planta.Utilizam as folhas de intensidade 1 que recebe maior quantidade de luz solar e as deixam fermentando pelo maior tempo possível. Geralmente, provenientes do Brasil e México.




Bitolas e Tipos de Charutos


Calibre Grosso
GRAN CORONA

235 mm x 18.65 mm
Marcas Bitolas

Montecristo Montecristo A
Sancho Panza

Sanchos
PROMINENTE
194 mm x 19.45 mm
MarcasBitolas

Punch Double Coronas
Hoyo de Monterrey Double Coronas
Partagás Lusitanias
Ramón Allones Gigantes
Vegas Robaina Don Alejandro
San Cristóbal de la Habana

El Morro
JULIETA

178 mm x 18.65 mm
MarcasBitolas

Cohíba Espléndidos
Punch Churchills
La Flor de Cano Diademas
Bolívar Churchills
Bolívar Coronas Gigantes
H Upmann Monarchs
H Upmann Sir Winston
Partagás Churchills
Romeo y Julieta Churchills
Romeo y Julieta Prince of Walles


PIRAMIDE

143 mm x 20.64 mm
MarcasBitolas

Montecristo Montecristo No.2
H Upmann Upmann No.2
Diplomáticos Diplomáticos No.2
Vegas Robaina Unicos
Reserva del Milenio Cohíba/Piramides

CORONA GORDA

143 mm x 18.26 mm
MarcasBitolas

Cohíba Siglo IV
Punch Punch Punch
Punch Royal Selection No.11
Punch Super Selection No.2
Punch Black Prince
Hoyo de Monterrey Epicure No.1
H Upmann Magnum 46
H Upmann Super Coronas
Romeo y Julieta Exhibition No.3
Juan López Selección No.1
Rafael González Coronas Extra
Rey del Mundo Gran Corona
Saint Luis Rey Serie A

CAMPANA

140 mm x 20.64 mm
MarcasBitolas

Bolívar Belicosos Finos
Romeo y Julieta Belicosos
Sancho Panza Belicosos
San Cristóbal de la Habana

La Punta
HERMOSOS Nº 4

127 mm x 19.05 mm
MarcasBitolas

H Upmann Connossieurs No.1
Romeo y Julieta Exhibition No.4
Rey del Mundo Choix Supreme
Saint Luis Rey Regios
Vegas Robaina Famosos

ROBUSTO

124 mm x 19.84 mm
MarcasBitolas

Cohíba Robustos
Hoyo de Monterrey Epicure No.2
Bolívar Royal Coronas
Partagás Serie D No.4
Ramón Allones Ramones Especially Selected
Juan López Selección No.2
San Cristóbal de la Habana La Fuerza
Reserva del Milenio Montecristo/Robusto

Calibre Médio
DALIA

170 mm x 17.07 mm
MarcasBitolas
Cohíba Siglo V
Bolívar Inmensas
Partagás 8-9-8
Partagás Partagás No.1
Partagás Selección Privada No.1
Ramón Allones 8-9-8
La Gloria Cubana Medaille D´OR No.2

CERVANTES

165 mm x 16.67 mm
MarcasBitolas
Montecristo Montecristo No.1
Por Larrañaga Lonsdales
Bolívar Lonsdales
H Upmann Lonsdales
H Upmann Upmann No.1
Partagás Lonsdales
Romeo y Julieta Cedros de Luxe No.1
Rafael González Lonsdales
Rey del Mundo Lonsdales
Sancho Panza Molinos
Diplomáticos Diplomáticos No.1
Saint Luis Rey Lonsdales
Vegas Robaina Clásicos

CORONA GRANDE

155 mm x 16.67 mm
MarcasBitolas
Cohíba Siglo III
Montecristo Montecristo Tubos
Punch Super Selection No.1
Quay D' Orsay Gran Corona
Hoyo de Monterrey Le hoyo Des Dieux
Partagás 8-9-8
Partagás Coronas Grandes
Romeo y Julieta Coronas Grandes
La Gloria Cubana Sabrosos

CORONA

142 mm x 16.67 mm
MarcasBitolas
Montecristo Montecristo No.3
Punch Coronas
Punch Royal Coronation
Quay D' Orsay Coronas Claro
Hoyo de Monterrey Hoyo Coronas
Hoyo de Monterrey Le Hoyo du Roy
Bolívar Bolívar Tubos No.1
Bolívar Coronas
H Upmann Coronas
Partagás Coronas
Ramón Allones Coronas
Romeo y Julieta Coronas
Romeo y Julieta Cedros de Luxe No.2
Romeo y Julieta Romeo No.1 de Luxe
Juan López Coronas
Rey del Mundo Coronas de Luxe
Sancho Panza Coronas
Diplomáticos Diplomáticos No.3
Saint Luis Rey Coronas
Vegas Robaina Familiar

NACIONALES

129 mm x 15.87 mm
MarcasBitolas
Quintero Brevas
Quintero Nacionales
Los Statos de Luxe Brevas
Los Statos de Luxe Selectos
Los Statos de Luxe Cremas

MAREVA

129 mm x 16.67 mm
MarcasBitolas
Cohíba Siglo II
Montecristo Montecristo No.4
Montecristo Petit Tubos
Vegueros Mareva
Punch Coronation
Punch Petit Coronas del Punch
Punch Royal Selection No. 12
Hoyo de Monterrey Short Hoyo Coronas
La Flor de Cano Coronas
Por Larrañaga Petit Coronas
Bolívar Bolívar Tubos No.2
Bolívar Petit Coronas
H Upmann Petit Coronas
H Upmann Coronas Major
H Upmann Upmann No.4
Partagás Petit Coronas
Ramón Allones Petit Coronas
Romeo y Julieta Petit Coronas
Romeo y Julieta Cedro de Luxe No.3
Romeo y Julieta Romeo No.2 de Luxe
Juan López Petit Coronas
Rafael González Petit Coronas
Rey del Mundo Petit Coronas
Sancho Panza Non Plus
Diplomáticos Diplomáticos No.4
Saint Luis Rey Petit Coronas

PETIT CETRO

129 mm x 15.87 mm
MarcasBitolas
Punch Exquisitos
Hoyo de Monterrey Exquisitos
La Corona Petit Cedros
Partagás Aristocrats
Partagás Londres Extra
Partagás Londres Finos
Partagás Petit Partagás
Partagás Londres en Cedro
Partagás Parisianos
Romeo y Julieta Coronita
Romeo y Julieta Coronitas en Cedro

STANDARD

123 mm x 15.87 mm
MarcasBitolas
La Flor de Cano Petit Coronas
La Flor de Cano Predilectos Tubulares
Por Larrañaga Super Cedros
Quintero Londres
Fonseca Delicias
Gispert Habaneras No.2

MINUTO
110 mm x 16.67 mm
MarcasBitolas
Punch Tres Petit Coronas
Bolívar Coronas Junior
Partagás Short
Ramón Allones Small Club Coronas
San Cristóbal de la Habana

El Principe
PERLA
102 mm x 15.87 mm
MarcasBitolas
Cohíba Siglo I
Montecristo Montecristo No.5
Punch Petit Punch
Romeo y Julieta Petit Princess
Diplomáticos Diplomáticos No.5

Calibre Fino
LAGUITO Nº 1

192 mm x 15.08 mm
MarcasBitolas

Cohíba Lanceros
Montecristo Montecristo Especial
Vegueros Especiales No.1

NINFAS

178 mm x 13.10 mm
MarcasBitolas

Punch Ninfas
Quay D' Orsay Panetelas


LAGUITO Nº 2

152 mm x 15.08 mm
MarcasBitolas

Cohíba Coronas Especiales
Montecristo Montecristo Especial No.2
Vegueros Especiales No.2
Hoyo de Monterrey Le hoyo du Dauphin

VEGUERITO
127 mm x 14.29 mm
MarcasBitolas

La Flor de Cano Preferidos
Por Larrañaga Panetelas
Quintero Panetelas

BELVEDERES
125 mm x 15.48 mm
MarcasBitolas

Punch Beldeveres
Belinda Beldeveres
Bolívar Beldeveres
Cabañas Beldeveres
H Upmann Beldeveres
La Corona Beldeveres
Partagás Beldeveres
Partagás Habaneros
Ramón Allones Beldeveres
Romeo y Julieta Beldeveres
Romeo y Julieta Regalías de la Habana

SEOANE
125 mm x 14.29 mm
MarcasBitolas

Cohíba Exquisitos
Vegueros Seoane

CAROLINA

121 mm x 10.32 mm
MarcasBitolas

Punch Margarita
Hoyo de Monterrey Margarita
Ramón Allones Ramonitas

FRANCISCANO
116 mm x 15.87 mm
MarcasBitolas

Punch Petit Coronation
H Upmann Coronas Minor
Partagás Tres Petit Coronas
Romeo y Julieta Tres Petit Coronas
Romeo y Julieta Romeo No.3 De Luxe
Juan López Patricias
Rafael González Tres Petit Lonsdales
Rey del Mundo Lunch Club
Sancho Panza Bachilleres

LAGUITO Nº 3

115 mm x 10.32 mm
MarcasBitolas

Cohíba Panetelas
Montecristo Joyitas
Rafael González Cigarritos

CADETE
115 mm x 14.29 mm
MarcasBitolas

H Upmann Coronas Junior
H Upmann Petit Upmann
Fonseca KDT Cadetes

CHICOS

106 mm x 11.51 mm
MarcasBitolas

Punch Cigarritos
Por Larrañaga Juanito
Quintero Puritos
Bolívar Chicos
Cabañas Coronitas
La Corona Coronitas
Partagás Chicos
Partagás Bonitos Extra Mild
Ramón Allones Bits of Havana
Romeo y Julieta Chicos


ENTREACTO
100 mm x 11.91 mm
MarcasBitolas

Hoyo de Monterrey Le Hoyo du Maire
Bolívar Demi Tasse
Romeo y Julieta Petit Julieta
Rey del Mundo Demi Tasse





Como Identificar um Habano 


Uma das maiores preocupações do fumador é como distinguir um charuto verdadeiro de um falso.



Acompanhe abaixo um passo a passo para evitar falsificações.
Com o aumento do consumo de charutos o fumador também passou a ter um outro problema: o aumento de falsificações dos charutos cubanos. 
Como saber se o charuto que você está fumando é legítimo ou é falso ?

Algumas dicas básicas e atenção aos detalhes são fundamentais.
1. Na tampa da caixa no lado superior direito deverá aparecer um selo em vermelho e amarelo com a palavra Habanos.
2. No lado esquerdo lacrando a caixa um selo verde que atesta a procedência dos charutos. Um terceiro selo do importador brasileiro dá garantia de origem do produto atestando sua qualidade.
3. No fundo da caixa deverá estar estampado, em baixo relevo, a palavra Habanos S.A. (estatal que controla toda produção de charutos), Hecho en Cuba e Totalmente a mano (se o charuto for todo feito a mão) ou Hecho a mano (se o miolo for feito a máquina e a capa enrolada manualmente) ou sem nada, o que demonstra que o charuto foi feito a máquina.
4. Ao abrir a caixa, verifique se os charutos têm a mesma cor e os anéis que os identificam estão alinhados.
5. Retire dois charutos da direita e a folha de cedro que faz a separação de um nível para o outro deverá ter um corte na parte superior direita, permitindo que se possa colocar o dedo e visualizar a segunda camada de charutos.
A segunda camada deverá ter a mesma cor da camada de cima e os anéis deverão estar alinhados. O espaço ocupado pelo 26º. charuto irá trazer um cepo de madeira ou um papelão no lado esquerdo, sempre do tamanho do charuto e não pela metade. Os charutos podem variar de cor de uma caixa para outra, mas sempre serão iguais dentro da caixa onde foram condicionados.
6. Por último, verifique a construção interna dos charutos para checar se todos estão bem enrolados e não apresentam falta de fumo em seu interior.

Desvendando os códigos

 Na parte inferior das caixas encontra-se a "carteira de identidade" dos Habanos


Desde 1985 a empresa estatal Habanos S.A., que controla toda produção e comercialização de charutos cubanos, vem utilizando um sistema de códigos.
Trata-se de um carimbo na parte inferior da caixa cuja informação é objeto de interesse de muitos aficionados por permitir determinar quando e onde foram fabricados seus charutos preferidos. 
Mantidos em segredo e alterados regularmente, os códigos cubanos estão descritos nas tabelas abaixo desde o primeiro (NIVEL ACUSO), de 1985, até o mais recente.

Confira:





O Ritual do Charuto
Por Celso Nogueira


Como cortar, acender e fumar charutos
Para a degustação de um charuto deve-se dispor de tempo suficiente, além de um ambiente próprio para fumá-lo sozinho ou na companhia de amigos que também apreciem este hábito. Pessoas que desejam fumar seu primeiro charuto muitas vezes, procuram artigos que ajudem a ter conhecimentos básicos sobre o assunto. Aqui você encontrará noções sobre os cortadores, métodos de acendimento e outras dicas que ajudarão a conhecer e apreciar ainda mais um charuto.
Escolhendo o charuto
Escolha a cor da capa que preferir, clara ou escura. Sinta o charuto suavemente entre os dedos (não o role pois isso pode causar rachaduras na capa) perceba se está muito úmido ou seco demais. Verifique a constituição do charuto para ter certeza de que não há rachaduras na capa e que a capa está em perfeitas condições. Enquanto alguns fumantes consideram que é perfeitamente natural segurar os charutos debaixo de seus narizes e cheirá-lo, outros acham desagradável que alguém enfie o nariz no charuto e depois o devolva para a caixa. Portanto, se desejar sentir o aroma do tabaco, aproxime o nariz cerca de 30 centímetros da caixa aberta e inale profundamente, isso será suficiente para determinar o bouquet e não causará problemas com outros consumidores.

Cortando o charuto

Coloque o charuto no cortador e corte-o: parece simples, não? Apesar de não ser ciência espacial, também não é tão fácil assim.
Se cortar demais a capa começará a soltar. Se cortar muito pouco a puxada será ruim. Normalmente remove-se aproximadamente 3 milímetros ou menos da cabeça. Cortar varia um pouco de charuto para charuto, mas é preciso deixar parte da capa para não desmanchar o charuto.

Um bom truque para conseguir o corte ideal é colocar o cortador em uma superfície plana e encaixar a cabeça do charuto nele. Aproxime o cortador o suficiente para que este agarre o charuto e faça o corte.
Para conseguir um corte limpo o truque é cortar de maneira rápida e completa. Cortadores de lâmina simples podem dar algum trabalho, mas normalmente se você exercer uma pressão rápida e regular tudo dará certo. Se você pretende fumar regularmente invista em um bom cortador, como Colibri, Zino ou Xikar.

Acendendo o charuto

Tente não soprar o charuto enquanto acende. Caso isso aconteça o sabor do charuto pode ser afetado. O pé do charuto deve ser aceso com um fósforo de madeira ou isqueiro de gás butano.
Evite usar coisas como velas, fósforos de papel, fogão ou isqueiros que usem fluidos (nafta) porque os produtos químicos de sua composição e os odores que emitem podem afetar o sabor do tabaco. Quando usar um fósforo, espere até que todo o enxofre queime por completo antes de acender o charuto. O instrumento ideal é o isqueiro de gás butano.

Comece a acender o charuto segurando-o num ângulo de 45 graus acima da chama, a cerca de 7 a 10 centímetros (dependendo da altura do fogo), gire o charuto até que o pé comece a acender. Nunca deixe que a chama toque no charuto, devagar dê baforadas enquanto gira o charuto ao redor da chama.

Dê uma olhada no pé e certifique-se de que está queimando uniformemente, você pode soprá-lo para garantir um acendimento completo. Depois que o charuto estiver aceso, deixe-o descansar por um minuto, uma pequena espera permitirá que o produto recém aceso se estabilize.

Fumando o charuto
Não tenha pressa com o charuto. Eles são feitos para serem saboreados e apreciados. Não são apenas uma dose de nicotina, como os cigarros. Dê duas ou três puxadas a cada 45 segundos. Fumá-lo apressadamente pode fazer com que o charuto apresente um gosto ruim.

Nunca inale (trague) o charuto. Apenas leve a fumaça até a boca. Conforme você for ganhando experiência pode experimentar exalar a fumaça pelo nariz. Essa ação é conhecida como retrohaling.

Manter a anilha ou retirá-la?
Essa é uma decisão pessoal. Alguns dizem que manter a anilha promove conversas entre os fumantes, enquanto outros dizem que é exibicionismo e que deixar a anilha é falta de educação. Se decidir retirar a anilha certifique-se de deixar o charuto esquentar, pois o calor derrete a cola e facilita a retirada. Lembre-se também que retirar a anilha de alguns charutos cubanos, como o Montecristo, é muito difícil (mesmo depois de aquecido) e pode causar danos à capa.

Reacendendo e jogando o charuto fora
Talvez um dos aspectos mais negligenciados referentes ao charuto é o ato de reacender um charuto apagado. Os charutos apagam naturalmente se não forem puxados a cada poucos minutos, então, reacender um charuto recém apagado não é um problema. Enquanto alguns afirmam que se pode aproveitar um charuto fumado parcialmente por mais de 24 horas, é melhor evitar reacendê-los depois de duas horas. Quando for reacender o charuto, segure a chama em frente à ponta e sopre para ajudar a expelir qualquer gás ou cinza que posa estar preso no charuto. Depois disso, siga os mesmos procedimentos para acendimento já citados.

Deixe a cinza queimar
Muitos charutos premium feitos a mão vão manter a cinza por um longo período antes que ela caia. Já a cinza de charutos mais baratos costuma formar flocos e cair com mais frequência. Tabacos que cresceram e foram tratados de maneira correta terão uma cinza mais clara do que a cinza muito escura que os charutos de baixa qualidade costumam ter. Alguns fumantes gostam de ver quão longa ficará a cinza antes de cair por si só – tenha cuidado quando estiver em um lugar público onde fumar seja permitido, ou em uma festa, você não vai querer que as cinzas caiam em sua roupa, ou no chão, ou no tapete.

A questão das cinzas envolve mais girar do que bater. Não há necessidade de ficar batendo as cinzas dos charutos a todo instante como as dos cigarros. Charutos feitos a mão são feitos com folhas inteiras de tabaco, o que faz com que segurem por mais tempo e com mais firmeza do que os cigarros, que têm as cinzas em forma de flocos e sempre acabam em seu colo caso você insista em deixá-las sem bater por mais tempo. Bater a cinza com muita força pode fazer com que a brasa caia, e você terá então que reacender o charuto.

Cinzas – Passo a passo
A melhor coisa é ter paciência. Espere até que a cinza fique com cerca de dois ou três centímetros, ou até que perceba que está se rompendo, antes de batê-la no cinzeiro. (se esperar muito tempo, a cinza certamente cairá em sua camisa, calça ou no chão. Apesar de algumas pessoas dizerem que cinza no tapete não é ruim, de modo geral, é considerado falta de educação).

Quando chegar a hora de bater, coloque o charuto na beirada de uma cinzeiro e gentilmente pressione o final do charuto contra o fundo do cinzeiro, girando o charuto ao mesmo tempo. Cuidado para não pressionar com muita força. Isso fará com que a cinza se parta por igual, e evitará qualquer um dos imprevistos citados acima. Se a cinza não quebrar, deixe o charuto no cinzeiro por alguns segundos, e então repita o processo.

Os cinzeiros
Cinzeiros são itens críticos para complementar os prazeres do fumo, assim sendo, devem ser escolhidos de maneira a se adequar ao tamanho do charuto e à sua técnica pessoal, ou seja, a maneira como você segura o charuto enquanto fuma ou como o mantém na boca (seco ou úmido etc.).

Cinzeiros antigos encontrados em brechós muitas vezes são velhos o suficiente para terem sido feitos especificamente para fumantes de charutos. Evite os modernos, feitos de cristal e com espaço para o descanso muito longo. Ficam sujos com muita facilidade, e são difíceis de controlar o charuto (naqueles momentos em que não estamos olhando para o que estamos fazendo).

O cinzeiro ideal tem um descanso (plataforma) para charutos com proporções generosas, como cerca de 5 centímetros de comprimento e 3 centímetros de largura, com uma curvatura larga para conter o charuto com facilidade, evitando que role para os lados.

Deve ainda ser grande o suficiente para suportar, pelo menos, a cinza de dois charutos grandes, caso contrário formará uma montanha de cinzas que deverá ser esvaziada a cada minuto. Quando um amigo visitá-lo será preciso que haja um cinzeiro com duas plataformas para apoiar os charutos e grande o suficiente para acomodar as cinzas sem dificuldade.

Para apagar o charuto, basta deixá-lo descansando por algum tempo. Apagá-lo pressionando contra o cinzeiro produz um cheiro ruim que polui todo o ambiente. Quando tiver certeza que o charuto está apagado, basta jogá-lo em um lugar apropriado.

Opções de cortadores
Existem três tipos básicos de cortes, o corte reto, o corte em cunha (ou “v”), e o perfurador, que faz um furo circular. O tipo de corte a ser feito é baseado na preferência pessoal e no tamanho e/ou formato do charuto. Fumantes experientes podem variar o tipo de corte ou usar sempre o mesmo tipo de cortador. O corte reto é o mais comum, e é sempre preferência no caso de charutos com calibre pequeno (charutos finos).
Cortadores retos
O tipo mais básico de cortador usado para fazer cortes retos é a guilhotina de uma única lâmina. A guilhotina com duas lâminas é preferência entre muitos aficionados porque costuma fazer um corte mais limpo. Tesouras especiais para charuto também são usadas para fazer cortes retos e podem ser a melhor opção para cortar o charuto no ponto exato que deseja. De qualquer forma, as guilhotinas costumam ser mais práticas, mais baratas e podem ser carregadas com segurança no bolso da calça ou da camisa. Guilhotinas de mesa, conhecidas como Maria Antonieta, são itens requintados de colecionadores e produzem um corte bom e preciso.

Cortadores em “v”
Cortadores em cunha ou “v” assemelham-se com as guilhotinas, mas o formato das lâminas faz um corte em “v” na cabeça do charuto ao invés de tirá-la por completo. O cortador é projetado para abrir somente uma parte do charuto, sempre com a mesma profundidade, então não há risco do corte sair muito profundo.

Furadores
Os perfuradores ou furadores são usados para fazer um furo circular na cabeça do charuto, ao invés de cortá-la. Se o furo não for grande o suficiente para o tamanho do charuto, a puxada pode ficar impedida. Além disso, à medida que o charuto é fumado, o alcatrão pode ficar acumulado próximo ao furo, alterando tanto o sabor quanto a puxada. No entanto, o furo de tamanho apropriado ajuda a fazer com que os sabores do charuto se manifestem, principalmente no caso de puros suaves.
Aqui vai uma dica: num momento de aperto, onde não haja nenhum cortador disponível, ou se desejar experimentar um charuto perfurado sem ter que comprar um perfurador, o furo pode ser feito utilizando uma caneta ou lápis.












Da Semente ao Charuto: Como se faz um charuto
Por Celso Nogueira

Tudo começa nas vegas, as fazendas especializadas em tabaco. A referência mundial é o sistema utilizado em Cuba, responsável pelos melhores fumos do planeta. Não só as sementes e o terroir cubano são superiores – o país detém conhecimentos insuperáveis em termos de cultivo e produção.

Superioridade cubana

Planície de Pinar del Río - Cuba
Um dos motivos que torna os charutos cubanos os melhores do mundo é o microclima da ilha. As características do solo, da temperatura e do ar são extremamente particulares. Cada região de cultivo produz um tipo diferente de tabaco. A província de Pinar del Rio é a maior produtora de fumo, em especial na região de Vuelta Abajo, uma área de cerca de mil hectares onde encontra-se o subdistrito de San Luis e San Juan y Martínez. O banco de sementes do governo controla o estoque entregue pelas empresas produtoras e redistribui as sementes para que cada produtor tenha a exclusividade do tipo de fumo que cultiva.

Semeadura

Os campos de tabaco costumam ser planos, para que as sementes não sejam levadas pela água das chuvas. O primeiro passo é o plantio em sementeiras cobertas com pano ou palha, para proteger as sementes da luz direta do sol. Esta cobertura é gradualmente retirada à medida que começa a germinação, e após cerca de 35 dias as lavouras são pulverizadas com pesticidas. Em seguida as mudas são transplantadas para os campos de tabaco, geralmente na segunda quinzena de outubro. Os campos são irrigados por baixo e as folhas molhadas tanto pela chuva e pelo orvalho da manhã.

A planta
A planta do tabaco pode possuir até trinta folhas e alcançar três metros de altura. Para classificação das folhas, a planta do tabaco possui três principais áreas: a parte de baixo, que chama-se “Livre Pé”, e produz folhas do tipo volado, importantes para a combustão, com alto teor de nicotina, sabor leve e ligeiramente aromáticas; a parte do meio, que se chama de “Centro Pé”, produz folhas grandes, do tipo seco com aroma de média intensidade, bem equilibradas; e a parte de cima, que chama-se de “Corona”, produz folhas menores, de sabor e aroma encorpados, do tipo ligero. A classificação não se aplica a tabacos para capa.
Após o corte, a planta se revigora e nasce um novo caule. Por isso, dependendo da saúde da planta, pode haver até 5 cortes. As flores são removidas manualmente (mais de 50 por pé), no processo chamado desbotoamento, para dirigir a força vital às folhas.

Capas

Conforme crescem as folhas, brotos aparecem no topo. Estes têm de ser retirados à mão para evitar plantas de baixa estatura e insuficiente crescimento foliar. A qualidade da folha de envoltório é muito importante para qualquer charuto. Existem tipos especificamente utilizados para fornecer capas, como Connecticut e Corojo. Estas plantas são sempre cultivadas sob mantas de gaze sustentadas por altos postes de madeira, que as protegem e impede que engrossem, como resposta protetora à luz solar. Outra técnica, chamada tapado, também podem ser usada para cobrir as plantas para fazer a folha permanecer lisa.

As folhas para capa, cultivadas sob cobertura são classificados por cores:
ligero (luz)
seco (seco)
viso (brilhante)
amarillo (amarelo)
Medio Tiempo (meia)
quebrado (quebrado)

Capote e miolo

As folhas que são cultivadas diretamente ao sol, para capote e bucha, são divididas em volado, seco e ligero. As folhas da parte superior da planta (ligero) têm um sabor mais forte a partir do meio elas são mais leves (seco), e as folhas da parte inferior (volado) são usados para auxiliar a combustão.



Blend

Para fazer um charuto de qualidade os vários tipos são misturados, juntamente com uma folha de capa adequada, em uma proporção especial para dar um charuto leve ou de sabor encorpado. Ele também garante que o charuto vai queimar direito. Grandes, médias, pequenas e são classificados pela condição física. Folhas insalubres ou quebradas são utilizadas para charutos feitos à máquina. Se todas as folhas são boas, cada planta de capa pode envolver 32 charutos. A condição e qualidade das folhas da capa é importante para a aparência atraente de um charuto, assim como para o aroma e o sabor.

Cura

Os pacotes de folhas são então levados para um abrigo. A temperatura e a umidade nesses galpões são cuidadosamente controladas, abrindo e fechando as portas em ambas as extremidades para dar conta das mudanças de temperatura ou de precipitação. As folhas são deixadas para secar por entre 45 e 60 dias, dependendo do clima. Durante este período a clorofila verde nas folhas transforma-se em caroteno, marrom, dando-lhes a cor característica.

Fermentação

Os maços de folhas são levados para casas de fermentação e colocado em pilhas de aproximadamente três metros de altura, cobertas com juta. O calor se desenvolve, mas a temperatura deve ser observada cuidadosamente para que não exceda 92 graus F durante os 35 a 40 dias que as pilhas são deixadas intactas. As folhas assumem uma cor uniforme.

Separação das Folhas

As folhas são então classificadas. Cada folha é cuidadosamente examinada e classificada. Folhas defeituosas são retiradas. As folhas, em seguida, retornam à área de fermentação. A segunda fermentação se inicia nas folhas úmidas. A temperatura no interior não deve exceder 110 graus F por cerca de 60 dias. Devido ao processo de fermentação, o charuto de tabaco é muito mais baixo em acidez, teores de alcatrão e de nicotina em comparação ao tabaco do cigarro, o que o torna muito mais saboroso..

Produção

Chega finalmente o momento para que as folhas são enviadas para as fábricas ou armazéns para a produção de charutos. Nas fábricas elas são molhadas para recuperar a maleabilidade.

Classificação

Entre as fermentações, as folhas são separadas de acordo com a cor (entre castanho claro e marrom escuro), o formato, a espessura e a resistência. As folhas destinadas aos charutos Cohiba passam por três fermentações, e as demais por duas, via de regra.

Montagem

Os torcedores elaboram os charutos manualmente. Preparam o miolo torcendo e agrupando as folhas. Depois, colocam em formas diferenciadas e prensam por uma hora. Cada profissional pode fazer mais de 100 unidades por dia. O charuto finalmente recebe a capa, feita de uma única folha de tabaco. Uma das pontas é selada com uma goma vegetal incolor e inodora. Depois ele é guilhotinado de acordo com seu tipo e segue para o controle de qualidade manual que verifica tamanho e a espessura. A maioria das fábricas utiliza também uma máquina que verifica se o fluxo está correto, eliminando os travados.

Como ferramentas os torcedores usam apenas:
1. Tábua de madeira para apoio do charuto
2. Chaveta - faca para cortar as folhas
3. Casquilho - cortador circular, que corta um círculo na folha de tabaco para fazer o arremate da parte superior
4. Cola vegetal natural insípida e incolor
5. Cepo – gabarito para checar o comprimento e o diâmetro do charuto

Seleção

Para harmonizar os aromas da capa e do miolo, os charutos descansam em caixas de cedro por cerca de quatro semanas, chamados escaparates. Então são separados de acordo com suas matizes para que cada caixa tenha as mesmas cores. Em cada charuto é colocado um anel de identificação, a anilha. Segue para a caixa, vai para a tabacaria e chega ao consumidor, pronto para ser apreciado.
Celso Nogueira


O Segredo das Mãos
O artesanato dos Charutos Brasileiros

Conheça melhor o artesanato dos charutos brasileiros premium
Por Giedre Moura
As folhas de fumo cultivadas no Recôncavo Baiano dão origem a caros e cobiçados charutos. O segredo da alta qualidade, além do solo fértil, são as delicadas artesãs, que, em vez de tentar a vida em Salvador, eternizam o ofício aprendido com as mães e avós

Por ali a Revolução Industrial não passou, muito menos a tecnológica, e nem sequer se dispõe de ferramentas para aumentar a produtividade. Há quem aposte que, justamente por isso, a qualidade não se perdeu. O cheiro do tabaco é forte, o trabalho é lento e minucioso e ao final do dia é possível observar que as pilhas de charutos que saem das mãos de grupos de mulheres são uniformes, nunca iguais. No mundo da charutaria de alta qualidade não há espaço para mecanização e a mão-de-obra exclusivamente feminina sabe disso. Estamos falando de uma fábrica cubana? Não, é um pouquinho mesmo de Brasil.
O cenário que remete a tempos antigos está cravado na região do Recôncavo Baiano. Em uma das mesas de madeira está Rosália Silva, de 48 anos, na sede da fábrica Menendez & Amerino, na cidade de São Gonçalo dos Campos, a 100 quilômetros de Salvador. Rosália é sinônimo de controle de qualidade. É ela quem verifica charuto por charuto, lote por lote, para selecionar as 25 unidades que vão compor uma caixa de marcas como o Dona Flor.
Na fila de análise está o lote Marilúcia. Não, não é outra marca, mas sim o registro da trabalhadora que o confeccionou. As artesãs, depois de transformar folhas secas em charutos, anotam seu nome e deixam o lote para o crivo de Rosália. “Se encontrar algo fora do padrão, eu sei pra quem devolver”, revela a artesã das folhas que, pela larga experiência, sabe exatamente o que os apreciadores de charuto esperam ao abrir uma caixa. É simples, mas funciona. A cada 450 charutos, apenas um é barrado no controle de qualidade. A informalidade e a quase familiaridade observadas no interior da fábrica não tiram a hierarquia e a liderança: “As mulheres que trabalham na produção não podem reclamar comigo caso algum charuto precise ser refeito. É preciso sempre muito capricho, e essa é a minha função. Todas respeitam”, explica Rosália.
A supervisora é uma das 90 empregadas da fábrica, em cuja produção só mulher tem vez. Além do capricho, a presença feminina tem a ver com a tradição, desde os tempos em que charutos eram enrolados nas coxas das índias, desde os tempos em que o tabaco era utilizado como moeda na compra de escravos. E quando o assunto é charuto, ensinam os cubanos, a tradição pode ser o segredo do sucesso.
Os vínculos com a ilha, aliás, são claros no Recôncavo. A Menendez & Amerino nasceu da união do baiano Mario Amerino Portugal com o cubano Félix Menendez. A dupla trabalha há mais de cinco décadas com os charutos. Como e quando os pés de tabaco chegaram à Bahia não é certo, mas o fato é que a adaptação criou uma matéria-prima local e oportunidades de trabalho. Assim como em Cuba, a planta manhosa precisa de um microclima ideal para dar origem a folhas longas, inteiras, sem quebras, indicadas para as capas dos charutos. O relevo, a fertilidade do solo, chuvas amenas e regulares, o Recôncavo é a Pinar del Rio brasileira. A região de Pinar, em Cuba, produz as folhas que dão origem aos caríssimos Cohiba, Monte Cristo e Romeu & Julieta.
Mas não são Menendez ou Amerino os pioneiros na produção baiana de charutos nem na idéia de empregar mulheres. Em 1873 Geraldo Dannemann veio da Alemanha e deu início à primeira produção de charutos do Recôncavo, onde a fábrica, mesmo após sucessivas fusões, permanece em atividade. Se na Menendez o carro-chefe é o Dona Flor, na Dannemann a vitrine vem do Artist Line e, sob chuvas, ventos e terra perfeitos, as melhores artesãs são selecionadas e nasce o cobiçado Artist Line Reserva.
A presença da mulher é importante também no cultivo, plantando, colhendo e depois comandando um processo cuidadoso de secagem, classificação e fermentação pois as folhas precisam ser sobrepostas para ressaltar sabores e aromas típicos das qualidades Mata Fina e Mata Norte, cultivadas em cidades como Cruz das Almas, também do Recôncavo.
Nas fábricas as charuteiras são trabalhadoras em regime de carteira assinada, nas plantações as relações contratuais variam. Os produtores tanto mantêm campos próprios como compram as folhas de tabaco de famílias e cooperativas, muitas delas criadas a partir de projetos de incentivo das próprias fábricas carentes de mão-de-obra de boa qualidade.
Logo cedo as mulheres chegam para o cultivo, ora plantando, ora indo e vindo com as folhas que acabaram de cortar de forma cuidadosa, que serão penduradas e secas em grandes galpões. Nesse momento a presença do homem pode ser notada. Com tetos altos, é preciso fazer “escaladas” para atingir a altura ideal de secagem, e ali o tabaco permanecerá em busca de cor e textura ideais.
O tabaco já viveu períodos de ouro. Em meados do século passado chegou a uma produção anual de 250 milhões de unidades. No final dos anos 1990 as fábricas voltaram a investir nas lavouras e, com a desvalorização do real frente ao dólar na ocasião, o mercado local venceu o preconceito e começou a conquistar novos apreciadores. Foi aí que os fabricantes se aproximaram dos lavradores para treinar, fomentar e, por fim, comprar a produção. Só a Dannemann conta com 300 produtores parceiros.
O fumo, caprichoso, tem várias manias. No campo, as mulheres revelam que a folha da parte baixa do pé tem sabor diferente da folha da parte alta, e é da mescla que surge o sabor do charuto. O processo continua na fábrica, pois, na hora de montar, as folhas não são pegas de forma aleatória; a mistura de tipos de folhagem é outro segredo desse negócio secular e artesanal.